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Foto do escritorCarlos Tavares

Quais as causas da dor lombar? Saiba como identificar e eliminar os fatores de risco?

Atualizado: 28 de jan. de 2022

A dor lombar crónica é um fardo na sociedade moderna. É a principal causa de incapacidade e está associada a elevados custos para a sociedade (1, 2). Não se trata de uma doença em si, mas sim de um sintoma. A maioria daqueles que se queixam de dor lombar moderada a severa, sentem o seu impacto nas atividades do seu dia-a-dia, tendo problemas em lidar com a mesma, incrementando o absentismo ao trabalho.



Apesar de inúmeras potenciais causas, o diagnóstico mais comum é dor lombar não específica, porquanto o clínico é incapaz de identificar as mesmas no historial do paciente, assim como os seus principais gatilhos. Inclusive cerca de 30% dos pacientes é incapaz de os identificar (3). Porém, não cremos que tal diagnóstico realmente exista. Simplesmente ainda não foi encontrada a causa por detrás do sintoma (dor lombar).


O que parece causar a dor lombar? Os fatores de risco...


A dor lombar afeta pessoas de todas as idades, sendo mais comum entre mulheres e com pico entre os 45-54 anos de idade. A sua prevalência é maior em países mais desenvolvidos, não existindo diferenças entre os meios urbanos e rurais. Os principais fatores de risco para dor lombar são de origem mecânica: quantidade de carga (peso) levantada no trabalho e número de levantamentos efetuados por dia. Parece também existir outros fatores de risco para desenvolver dor lombar associados ao estilo de vida, como por exemplo o sedentarismo, a obesidade, o tabagismo e sintomas depressivos. Para além dos fatores ocupacionais já enumerados, a postura e a falta de ergonomia no trabalho também contribuem para o aumento do risco de dor lombar (2, 3).


Os episódios agudos de dor lombar podem ter como gatilho fatores de ordem mecânica (exemplo, fraca técnica de levantamento, má postura prolongada) ou fatores psicossociais (exemplo, fadiga e cansaço), ou podem resultar da combinação de ambos (exemplo, estar distraído enquanto realiza um levantamento) (3).


Outro diagnóstico comum é dor lombar radicular ou radiculopatia lombar (dor que tem origem nas raízes nervosas lombares, e radia da zona lombar ao longo do trajeto do nervo ciático para a parte posterior da coxa e desce até à perna, abaixo do joelho), vulgarmente designada por dor ciática. Um estudo observacional e longitudinal recente identificou fatores de risco para dor lombar e dor ciática, tendo sido concluído que quer a obesidade, quer a exposição a cargas mecânicas em contexto de trabalho, têm impacto no dia-a-dia das pessoas (4). A obesidade abdominal (definida através do perímetro da cintura) aumenta o risco para dor lombar, e em geral a obesidade (definida pelo Índice de Massa Corporal – IMC) aumenta o risco para dor ciática.


Bandeiras Vermelhas



Em raras situações, existem causas sinistras para a dor lombar. Nestes casos, deve consultar o seu médico de família para uma avaliação mais rigorosa dos sinais e sintomas, e dos resultados dos exames complementares de diagnóstico. O seu médico de família deverá efetuar uma avaliação rigorosa: análises sanguíneas e à urina, alteração do peso recente e inexplicável, historial de trauma, alterações na função da bexiga ou dos intestinos (incontinência ou obstipação), cancro, uso de drogas intravenosas, doenças sistémicas, dor lombar com febre, dor noturna constante e progressiva, dor abdominal (particularmente entre o umbigo e a púbis), anestesia em sela (dormência na parte interna das coxas e no soalho pélvico). Ao mesmo tempo, o seu médico deverá ser capaz de eliminar qualquer possibilidade de restrição vascular ou condição cardíaca, com potencial para causar / imitar dor lombar.


Muito raramente estas condições não são detetadas à priori. Quando isto sucede, os pacientes não respondem a programas de reabilitação da coluna, mesmo com modificações na postura e no movimento. Por essa razão, terão que ser referidos de volta ao médico.


Uma vez eliminadas as bandeiras vermelhas e identificados os fatores de risco, o que fazer?


Exercício físico, manipulação vertebral e educação do paciente são intervenções terapêuticas conservadoras que estão na linha da frente para o tratamento da dor lombar (5). Não cumpre neste post entrar em detalhe em cada tipo destas intervenções, porém vamos explorar de modo genérico o que se pode fazer nas áreas do exercício e ocupacional?


Exercício


A implementação de um programa de exercício para tratar / prevenir dor lombar deve focar-se em três objetivos: 1) aumentar a resistência muscular da musculatura de suporte da coluna, melhorando a estabilidade da mesma e o controlo motor; 2) reduzir as assimetrias na força muscular e na mobilidade articular; 3) reduzir o IMC e a obesidade abdominal; e 4) melhorar a aptidão aeróbia.

Não será necessário ser um(a) guerreiro(a) de ginásio para implementar um programa de exercício. Caminhar ou ir de bicicleta para o trabalho reduz o risco de dor lombar, sendo a maior redução observada em indivíduos sem obesidade abdominal e naqueles que não estão expostos a exigência física no local de trabalho (4). Conjugando um plano nutricional ajustado e o aumento da atividade física diária, já contribui para a o sucesso dos objetivos 3 e 4. Os objetivos 1 e 2 serão conquistados implementado um programa de treino de força com foco na melhoria da resistência muscular e na simetria da mobilidade articular. Stuart McGill propõe uma intervenção que tem por base os seus “3 Grandes Exercícios Não Negociáveis” (6): Curl Up Modificado, Ponte Lateral e Cão-pássaro em Posição Quadrupede. Num próximo post apresentaremos esta abordagem. Sabe-se igualmente que o sucesso na diminuição da dor lombar passa igualmente pela melhoria da mobilidade das ancas e da coluna dorsal (existe uma relação de interdependência regional).


Ocupação (Educação para a Promoção da Saúde)


Um dos propósitos deste blog é educar para prevenção da incidência e recidivas da dor lombar. Esta passa pela postura no local de trabalho, em casa à mesa, no sofá ou na cama. Pequenas modificações nestes contextos (como por exemplo, cadeiras com encostos ergonómicos, standing desks, ajustamento do posicionamento do ecrã...) podem representar enormes melhorias na sintomatologia e na qualidade de vida dos pacientes. O aumento da atividade física diária, combatendo o sedentarismo, assim como o controlo dos hábitos tabágicos, são importantes ferramentas nesta batalha.


Eis pequenas modificações que pode fazer no seu dia-a-dia:

  • Um preditor de futuros problemas da coluna é iniciar o movimento pela coluna quando realiza as tarefas no seu dia-a-dia (por exemplo, alcançar para abrir uma porta ou para apanhar algo do chão ou de um armário). Quando executa estas tarefas deve manter o tronco estável e em posição neutra o máximo possível, enquanto o seu movimento é realizado pelas coxofemorais e ombros.

  • A dor induzida pela manutenção da posição sentada(o) ou de pé por períodos prolongados é um preditor de dores mais intensas no futuro.Evite permanecer mais do que 1h na mesma posição.

  • Descanso na cama não é a melhor solução para a dor lombar. Assim que possível, torne-se ativo, faça pequenas caminhadas em percursos planos.

  • A hidratação é fundamental para manter o normal funcionamento do corpo, incluindo os tecidos que rodeiam a coluna lombar. Beba água com frequência, evitando a sede.


Esperamos tê-la(o) ajudado com esta informação. Caso necessite de ajuda não hesite em marcar uma consulta (Quiroativação). Não deixe que a sua coluna afete o seu bem-estar.


Referências bibliográficas:

  1. Chou, R. (2021). Low Back Pain. Annals of internal medicine, 174 (8), ITC113–ITC128.

  2. Chen, S., Chen, M., Wu, X., Lin, S., Tao, C., Cao, H., Shao, Z., & Xiao, G. (2021). Global, regional and national burden of low back pain 1990-2019: A systematic analysis of the Global Burden of Disease study 2019. Journal of orthopaedic translation, 32, 49–58.

  3. Maher, C., Underwood, M., & Buchbinder, R. (2017). Non-specific low back pain. Lancet (London, England), 389 (10070), 736–747.

  4. Shiri, R., Falah-Hassani, K., Heliövaara, M., Solovieva, S., Amiri, S., Lallukka, T., Burdorf, A., Husgafvel-Pursiainen, K., & Viikari-Juntura, E. (2019). Risk Factors for Low Back Pain: A Population-Based Longitudinal Study. Arthritis care & research, 71 (2), 290–299.

  5. Kirkwood, J., Allan, G. M., Korownyk, C. S., McCormack, J., Garrison, S., Thomas, B., Ton, J., Perry, D., Kolber, M. R., Dugré, N., Moe, S., & Lindblad, A. J. (2021). PEER simplified decision aid: chronic back pain treatment options in primary care. Canadian family physician Medecin de famille canadien, 67 (1), 31–34.

  6. McGill, S. M. (2015). Back Mechanic: The step-by-step McGill method to fix back pain. Backfitpro Inc. (www.backfitpro.com).


Aviso Legal:

A informação disponibilizada não representa uma prescrição. Deve consultar um profissional licenciado na área clínica antes de iniciar um programa de exercício e ser supervisionada(o) por um técnico de exercício físico ou terapeuta devidamente qualificado.

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