Dor Musculoesquelética Crónica: Um Problema do Sistema Nervoso... e Agora?
- Carlos Tavares
- 19 de dez. de 2021
- 4 min de leitura
Atualizado: 17 de mar.

A dor crónica, especialmente a dor musculoesquelética (como dores nas costas, pescoço ou articulações), é um problema que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Durante muitos anos, pensava-se que esta dor era causada apenas por problemas nos músculos, ossos ou articulações. No entanto, pesquisas recentes mostram que o sistema nervoso desempenha um papel fundamental nestes casos. Alterações funcionais e estruturais no sistema nervoso central (SNC) estão associadas a muitas síndromes de dor crónica (como por exemplo fibromialgia ou síndromes de dor pélvica).

O Que Significa Isso? Como o Sistema Nervoso Influencia a Dor?
Quando a dor persiste por meses ou anos, o sistema nervoso pode ficar "sensibilizado". Isso significa que ele começa a interpretar sinais normais do corpo como se fossem dor, mesmo que não haja uma lesão ou dano real nos tecidos. Fica “sensível”. Por exemplo, um toque leve ou um movimento simples podem ser sentidos como dolorosos.
A plasticidade e a automaticidade do sistema nervoso jogam um papel fundamental. A plasticidade do sistema nervoso refere-se à sua capacidade de se adaptar e mudar. Em casos de dor crónica, o sistema nervoso pode perder a sua capacidade de inibir a dor automaticamente, exigindo um esforço maior para aliviar a dor. Por exemplo, na reabilitação da marcha, o foco deve ser restaurar a automaticidade (controlo rápido e sem esforço). O mesmo princípio pode ser aplicado ao alívio da dor: as terapias que restauram a automaticidade podem ser mais eficazes do que aquelas que dependem apenas do controle executivo. Quer isto dizer que o foco deve progressivamente deixar de estar no controlo consciente do movimento.
Por Que Isso Acontece?
Vários fatores podem contribuir para essa sensibilização do sistema nervoso:
Stress emocional: Ansiedade, depressão ou stress podem aumentar a sensibilidade à dor.
Falta de movimento: Evitar atividades físicas por medo da dor pode piorar a situação, pois o corpo fica mais fraco e menos capaz de lidar com estímulos.
Memória da dor: O cérebro pode "aprender" a sentir dor, mesmo quando a causa original já desapareceu.
O Que Pode Ser Feito?
A boa notícia é que existem abordagens eficazes para tratar a dor crónica, focadas no sistema nervoso:
Exercício Físico Progressivo e de Intensidade Gradual: Movimentar-se de forma controlada e progressiva ajuda a "reeducar" o sistema nervoso, reduzindo a sensibilidade à dor. Sabe-se também que intervenções como exercício aeróbico podem modular os níveis da proteína BDNF (Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro), que regula o crescimento, manutenção e reparação das células nervosas, ajudando a restaurar a função normal do sistema nervoso. Caminhar já é uma solução fácil e efetiva.
Terapia Cognitivo-Comportamental: Trabalhar a mente para mudar pensamentos e comportamentos relacionados à dor pode trazer alívio significativo.
Educação sobre a Dor: Entender como a dor funciona ajuda a reduzir o medo e a ansiedade, permitindo que o paciente retome atividades normais.
Tratamento Multidisciplinar: Combinação de quiroprática, fisioterapia, apoio psicológico e, em alguns casos, medicação, pode ser a chave para o sucesso.
Restaurar a Automaticidade: Terapias como manipulação vertebral e mobilização articular podem ajudar a restaurar a capacidade do sistema nervoso de inibir a dor automaticamente.
Treinar a Automaticidade: Em alguns casos, expor o indivíduo a estímulos dolorosos sem causar dano pode "treinar" o sistema nervoso a responder de forma mais eficaz.
Evitar Dependência do Controle Executivo (Consciente): Depender apenas do esforço consciente para o alívio da dor pode não ser sustentável a longo prazo.

Conclusão
A dor musculoesquelética crónica deve ser entendida como um problema do sistema nervoso, onde a interação entre os sistemas periférico e central desempenha um papel crucial. Compreender isso é o primeiro passo para um tratamento eficaz. Abordagens que focam na plasticidade e na restauração da automaticidade do sistema nervoso, como a quiroprática e o exercício físico podem oferecer novas esperanças para o tratamento eficaz da dor crónica.
Se sofre de dor crónica, consulte profissionais de saúde especializados, como quiropráticos, fisioterapeutas, fisiologistas do exercício, neurologistas e/ou psicólogos que o possam guiar num plano de recuperação adaptado às suas necessidades. A dor pode ser complexa, mas com a abordagem certa, é possível recuperar a qualidade de vida, controlar a dor, e ter uma vida ativa e plena.
Esperamos tê-la(o) ajudado com esta informação. Caso necessite de ajuda não hesite em contatar-nos (Quiroativação). Não deixe que a sua coluna afete o seu bem-estar.
Referências:
George, S. Z., & Bishop, M. D. (2018). Chronic Musculoskeletal Pain is a Nervous System Disorder… Now What?. Physical therapy, 98(4), 209–213. https://doi.org/10.1093/ptj/pzy002
Aviso Legal:
A informação disponibilizada não representa um diagnóstico clínico, nem mesmo uma prescrição. Deve consultar profissionais devidamente credenciados para avaliação e diagnóstico clínico, que possam prescrever tratamentos adequados dentro do seu escopo de prática. Antes de iniciar um programa de exercício deve consultar um profissional licenciado na área clínica e ser supervisionada(o) por um técnico de exercício físico ou fisioterapeuta devidamente qualificado. O mesmo se prende com a prescrição de programas de nutrição funcional e suplementação, os quais devem ser prescritos por nutricionistas devidamente credenciados e pertencentes à respetiva ordem.
Comments