O Diagnóstico de um Sintoma sem Causa
Antes de qualquer explicação sobre esta condição, será importante ver este vídeo curto para perceber a estrutura da coluna.
Descrição da condição
A dor lombar não específica pode afetar pessoas de todas as idades. Não possui patogénese conhecida. Na realidade não é uma patologia. É simplesmente um diagnóstico baseado num sintoma, perante a incapacidade de o clínico identificar a causa que está por detrás. Inclusive, cerca de um terço dos pacientes nem sequer se consegue lembrar qual foi o gatilho que originou a dor (Chen et al., 2021).
A dor lombar afeta pessoas de todas as idades, sendo mais comum entre mulheres e com pico entre os 45-54 anos de idade. A sua prevalência é maior em países mais desenvolvidos, não existindo diferenças entre os meios urbanos e rurais. Parece também existir outros fatores de risco para desenvolver dor lombar associados ao estilo de vida, como por exemplo o sedentarismo, a obesidade, o tabagismo e sintomas depressivos. Para além dos fatores ocupacionais já enumerados, a postura e a falta de ergonomia no trabalho também contribuem para o aumento do risco de dor lombar. Os episódios agudos podem ser desencadeados por fatores mecânicos (por exemplo, técnica inadequada de levantamento de peso) ou fatores psicossociais (por exemplo, fadiga ou cansaço) ou por uma combinação de ambos (por exemplo, distração durante o levantamento) (Maher et al., 2017; Chen et al., 2021).
Sinais e sintomas
A lombalgia (dor lombar) em si é um sintoma e não uma doença. A maioria dos pacientes queixa-se de dor moderada a intensa, a qual tem impacto na sua vida diária, causando problemas ao lidar com a mesma.
De acordo com as diretrizes do American College of Physicians, nestes casos, o diagnóstico por imagem deve ser adiado até que haja risco para desenvolvimento de cancro ou fatores de risco para espondiloartrite, fratura por compressão vertebral, radiculopatia, estenose espinal, infeção espinal ou síndrome da cauda equina, acompanhada por déficites neurológicos graves (Maher et al., 2017). Estudos com ressonâncias magnéticas não mostraram associações consistentes entre os achados deste tipo de exame e futuros episódios de dor lombar (Brinjikji et al., 2015; Maher et al., 2017).
Tratamento
Muito do que tem sido o tratamento desta condição prende-se com a gestão da dor. Não podemos dizer que isso não é importante, e por isso guardaremos tempo para falar sobre esse ponto no final deste post.
Na linha da frente para o tratamento da dor lombar estão intervenções terapêuticas conservadoras como o exercício físico, a manipulação vertebral e a educação do paciente (Kirkwood et al., 2021).
Um programa de exercício para tratar / prevenir dor lombar deve focar-se em: aumentar a resistência muscular da musculatura de suporte da coluna, melhorando a estabilidade da mesma e o controlo motor; reduzir as assimetrias na força muscular e na mobilidade articular; reduzir o índice de massa corporal e a obesidade abdominal; e melhorar a aptidão aeróbia.
A manipulação vertebral (a quiroprática é a forma mais específica de manipulação da coluna e é segura) tem um papel singular na melhoria da função da coluna e consequente redução da dor e desconforto no movimento.
A educação do paciente visa a promoção da sua saúde. O objetivo é a reincidência de episódios de dor lombar. Este ponto passa pela postura no local de trabalho, em casa à mesa, no sofá ou na cama. Pequenas modificações nestes contextos (como por exemplo, cadeiras com encostos ergonómicos, standing desks, ajustamento do posicionamento do ecrã...) podem representar enormes melhorias na sintomatologia e na qualidade de vida dos pacientes. O aumento da atividade física diária, combatendo o sedentarismo, assim como o controlo dos hábitos tabágicos, são importantes ferramentas nesta batalha. Na ergonomia, não pode ser deixada de parte a melhoria sobre padrões motores fundamentais como o levantamento de cargas, o agachamento, a marcha entre outros.
Com respeito a este ponto, eis pequenas modificações que pode fazer no seu dia-a-dia:
Um preditor de futuros problemas da coluna é iniciar o movimento pela coluna, quando realiza as tarefas no seu dia-a-dia (por exemplo, alcançar para abrir uma porta ou para apanhar algo do chão ou de um armário). Quando executa estas tarefas deve manter o tronco estável e em posição neutra o máximo possível, enquanto o seu movimento é realizado pelas coxofemorais e ombros.
A dor induzida pela manutenção da posição sentada(o) ou de pé por períodos prolongados é um preditor de dores mais intensas no futuro. Evite permanecer mais do que 1h na mesma posição.
Descanso na cama não é a melhor solução para a dor lombar. Assim que possível, torne-se ativo, faça pequenas caminhadas em percursos planos. Construa a sua resiliência, incrementando a distância aos poucos. Inicialmente, prefira fazer pequenos percursos repartidos ao longo do dia.
A hidratação é fundamental para manter o normal funcionamento do corpo, incluindo os tecidos que rodeiam a coluna lombar. Beba água com frequência, evitando a sede.
Para aqueles de vocês que querem entender o que potencialmente pode estar por detrás da dor lombar, vejam esta apresentação do Dr. Stuart McGill:
Não! Não nos esquecemos da principal preocupação do paciente: a dor.
Dado que a maioria dos pacientes com dor lombar aguda ou subaguda melhora com o tempo, independentemente do tratamento, a primeira linha de atuação deve ser o tratamento não farmacológico. Pode ser usado calor superficial, massagem, acupuntura ou manipulação da coluna. Nesta fase, a prática de exercício deve ser acautelada e, preferencialmente, em contexto clínico.
As evidências mais recentes para os tratamentos não farmacológicos da dor lombar crónica indicam que o tai chi e a redução do estresse baseada na atenção plena são eficazes para a dor lombar, e reforçam as descobertas anteriores sobre a eficácia do yoga. As evidências continuam a apoiar a eficácia do exercício, terapias psicológicas, reabilitação multidisciplinar, manipulação da coluna vertebral, massagem e acupuntura para dor lombar crónica. A acupuntura é modestamente eficaz para dor lombar aguda, sendo as evidências ainda limitadas a este nível. A magnitude dos benefícios na dor mostrados nos estudos analisados foi pequena a moderada e geralmente de curto prazo; os efeitos sobre a função geralmente foram menores do que os efeitos sobre a dor (Chou et al., 2017). É importante referir que o exercício não deverá ser a primeira abordagem ao tratamento de pessoas com problema de coluna. Em primeiro lugar é importante identificar os gatilhos e eliminá-los, e educar o paciente para as posturas e movimentos que aumentam a dor e diminuem dor, para que este aprenda a gerir episódios agudos.
O tratamento farmacológico para a dor lombar aguda ou subaguda será sempre uma segunda linha de recomendação, se o médico e o paciente assim o desejarem. Este assentará em medicamentos anti-inflamatórios não esteroides ou relaxantes musculares esqueléticos, sob prescrição médica (Qaseem et al., 2017). Na maior parte dos casos, se a primeira linha for precedida de uma avaliação extensa da situação do paciente, este pode não chegar a este ponto.
Pacientes com dor lombar crónica, de acordo com indicação médica e sua preferência, devem inicialmente selecionar tratamento não farmacológico com exercícios, reabilitação multidisciplinar, acupuntura, redução do estresse baseada em mindfulness, tai chi, ioga, exercício de controle motor, relaxamento progressivo, biofeedback eletromiográfico, terapia com laser de baixa intensidade, terapia operante, terapia cognitivo-comportamental ou manipulação da coluna vertebral. Aqueles pacientes com dor lombar crónica que tiveram uma resposta inadequada à terapia não farmacológica, devem consultar o seu médico, se assim o entenderem, para optar por um tratamento farmacológico (Qaseem et al., 2017).
Não podemos terminar, sem reforçar que é fundamental encontrar a causa que levou ao sintoma, o gatilho que foi pressionado. Há que identificar os gatilhos e eliminar / corrigi-los, assim como educar o paciente para os movimentos e posturas que agravam a dor ou aliviam a dor. O paciente tem que ser munido das ferramentas para lidar com o seu problema. Caso contrário, este corre o risco de o tratamento ser sempre a curto prazo.
Vídeo sobre dor lombar crónica: entenda um pouco mais sobre as estruturas da coluna lombar e a razão para as terapêuticas utilizadas.
Vídeo sobre dor lombar – tudo o que precisa de saber | por Dr. Nabil Ebraheim
Esperamos tê-la(o) ajudado com esta informação. Caso necessite de ajuda não hesite em contatar-nos (Quiroativação). Não deixe que a sua coluna afete o seu bem-estar.
Referências:
Brinjikji, W., Luetmer, P., Comstock, B., Bresnahan, B., Chen, L., Deyo, R., Halabi, S., Turner, J., Avins, A., James, K., Wald, J., Kallmes, D. & Jarvik, J. (2015). Systematic literature review of imaging features of spinal degeneration in asymptomatic populations. AJNR. American journal of neuroradiology. 36 (4): 811–816.
Chen, S., Chen, M., Wu, X., Lin, S., Tao, C., Cao, H., Shao, Z., & Xiao, G. (2021). Global, regional and national burden of low back pain 1990-2019: A systematic analysis of the Global Burden of Disease study 2019. Journal of Orthopaedic Translation, 32, 49–58.
Chou, R., Deyo, R., Friedly, J., Skelly, A., Hashimoto, R., Weimer, M., Fu, R., Dana, T., Kraegel, P., Griffin, J., Grusing, S., & Brodt, E.D. (2017). Nonpharmacologic Therapies for Low Back Pain: A Systematic Review for an American College of Physicians Clinical Practice Guideline. Annals of Internal Medicine.
Kirkwood, J., Allan, G. M., Korownyk, C. S., McCormack, J., Garrison, S., Thomas, B., Ton, J., Perry, D., Kolber, M. R., Dugré, N., Moe, S., & Lindblad, A. J. (2021). PEER simplified decision aid: chronic back pain treatment options in primary care. Canadian Family Physician / Medicine de Famille Canadien, 67 (1), 31–34.
Maher, C., Underwood, M. and Buchbinder, R. (2017). Non-specific low back pain. Lancet. 389 (10070): 736–747.
Qaseem, A., Wilt, T.J., McLean, R.M., Forciea, M.A. (2017). Noninvasive Treatments for Acute, Subacute, and Chronic Low Back Pain: A Clinical Practice Guideline from the American College of Physicians. Annals of Internal Medicine. Clinical Guidelines.
Aviso Legal:
A informação disponibilizada não representa um diagnóstico clínico, nem mesmo uma prescrição. Deve consultar profissionais devidamente credenciados para avaliação e diagnóstico clínico, que possam prescrever tratamentos adequados dentro do seu escopo de prática. Antes de iniciar um programa de exercício deve consultar um profissional licenciado na área clínica e ser supervisionada(o) por um técnico de exercício físico ou fisioterapeuta devidamente qualificado. O mesmo se prende com a prescrição de programas de nutrição funcional e suplementação, os quais devem ser prescritos por nutricionistas devidamente credenciados e pertencentes à respetiva ordem.
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